Premiados |
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Menções Honrosas |
1º PRÉMIO
Ana Rita da Silva Freitas Rocha (Algueirão/Sintra)
“Si j'étais restée” |
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Filipe Alexandre Madaleno Luís (Lisboa)
“Fã de ti” |
2º
PRÉMIO
Susana Cristina Marques Santos (Matarraque/Cascais)
“A aula de descer abismos” |
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Hugo Filipe de Oliveira Lopes (Queijas/Oeiras)
“Entrelaças” |
3º PRÉMIO
Susana Isabel Pacheco Martins (Faro)
“Hoje” |
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Hugo Filipe de Oliveira Lopes (Queijas/Oeiras)
“Dançamos” |
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Jorge Augusto dos Santos Pópulos
(Rio
Tinto/Gondomar)
“Ao Vento” |
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Luís Fernando Dias de Oliveira (Calvão/Vagos/Aveiro)
“À mesa contigo Amor” |
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Márcia Cristina da Silva Leite Gonçalves
(Vale de
Cambra/Aveiro)
“Vou fazer-te uma
confidência” |
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Maria João Magalhães Neves
(Lisboa)
“Dois” |
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Sofia Margarida Mesquita Tiago Sobral Ramos
(Coimbra)
“Chove”
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Premiados |
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1º PRÉMIO
Ana Rita da Silva Freitas Rocha
(Algueirão/Sintra)
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“Si j'étais restée”
Procuro-te. Busco-te. Abro ficheiros e pastas no computador, de fotos, de
vídeos. Mas tu não estás em nenhum. Procuro por ti. Escrevo o teu nome no
rectângulo de busca, no site do Google. Com o teu nome, existem muitas
pessoas. Mas não és tu. Nunca és tu.
Como se nunca tivesses existido. Como se só na minha cabeça fosses real.
Que estranho é. Num momento da minha vida, só existias tu, para mim. Eu,
estava sozinha. E procurava-te. Quantas vezes te telefonei. Pedia-te se
podia ir a tua casa. Estava sozinha e precisava de ti. Ficávamos horas a
falar, lanchávamos lentamente, entre as 17h e as 20h. Três horas de
lanche\!
Três horas em que partilhávamos segredos. Três horas em que me olhavas nos
olhos e sabias todas as minhas mágoas, sem que eu movesse os lábios. A luz
do dia desaparecia, lentamente. E nós continuávamos ali, sentados, os
dois,
um em frente ao outro, até anoitecer. Agarrávamos uma caneca, cada um, e
olhávamo-nos discretamente, entre goles de chá. Mas logo desviávamos o
olhar, dirigindo-o para as canecas, que fumegavam e arrefeciam nas nossas
mãos.
Às vezes, tocavas piano. Eu escutava-te. Sei que não tocavas por mim, nem
para mim. Mas aquele momento era nosso. Ainda que tu estivesses sozinho,
absorvido pelo piano, absorvido pela música, com os teus dedos tocando
freneticamente uma sucessão de teclas, que se articulava numa harmonia
perfeita. E eu ali, somente escutando. Sentada, numa cadeira distante, com
uma caneca de chá na mão. Observando-te. Ouvindo-te. Apreciando-te.
Quando passeávamos à noite, olhávamos o Rhône, desde a ponte. O Rhône
reflectia as luzes da universidade. Já era Verão. Eu adorava entrelaçar o
meu braço no teu. E sentir que naquele momento só existíamos os dois, o
rio,
as luzes. Desejei que me beijasses, que te esquecesses de tudo, que me
desculpasses. Desejei que me agarrasses e que não me desses alternativa.
Como se eu não tivesse culpa de te beijar também.
Como se a decisão fosse
tua, somente tua, e eu pudesse ser ilibada de qualquer culpa, porque na
realidade não me tinhas dado outra alternativa a não ser entregar-me,
nesse
beijo, a ti.
Nunca o fizeste. Nunca te demonstrei o meu desejo de que o fizesses. Mas
tu sabes que eu o queria.
Por isso naquele dia, quando me agarraste sobre a
ponte e eu me voltei de repente e ficámos frente a frente, a uma distância
tão curta que nos permitia sentir a respiração um do outro e os nossos
olhares se cruzaram\; por isso nesse momento, ou no instante seguinte,
numa
fracção curta de lucidez, desviámos tão rapidamente o olhar e ficamos os
dois, um ao lado do outro, a olhar fixamente o rio, de cima da ponte, sem
ousar tocarmo-nos outra vez com o olhar, sentindo o rubor da culpa e da
intensidade do momento aflorando à pele. Sentindo a brisa do Rhône, e
vendo
a agua correr, correr sempre sem parar. Sabendo que a agua segue a
corrente
e nunca se desvia.
Contigo esqueci o meu passado. Contigo lembrei-me da vida. Quis estar ao
teu lado. Só existias tu naquele momento. Mas agora, quase um ano depois
da
primeira vez que te vi, também o tempo passou. Como a água do Rhône,
também
o tempo avançou. E já não estamos juntos.
É por isso que hoje te procuro e já não te encontro. Busco-te e não te
vejo em nada mais que na minha memória.
E se tivéssemos ficado juntos? E se eu tivesse conseguido doutoramento em
Lyon? E se em vez de me ter esquecido de ti, me tivesse afinal esquecido
de
mim?
Pensavas partir. Mas sei que ainda aí estás. Afinal não partiste.
Por essa altura, perguntei-te se pensarias em ficar\; se não pensarias em
partir se eu aí pretendesse ficar. Respondeste-me resolutamente que nada
teria mudado\; que pensarias partir da mesma forma. Mas naquela altura
pensavas partir. E não partiste. Deixa-me então repetir a pergunta\:
Si j'étais restée, qu'est-ce qui aurait changé?
Não me respondas.
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2º PRÉMIO
Susana Cristina Marques Santos
(Matarraque/Cascais)
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“A aula de descer abismos”
\"E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-lhe, e ganhar-lhe\"
Almada Negreiros
Sentada à mesa do jantar, troco com a família considerações de
recém-licenciada. Constato, pela primeira vez e com alguma violência,
que o
mundo contemporâneo não foi feito para mim. Ou que eu não fui feita
para o
mundo contemporâneo. Sinto - fulminantemente e obscuramente e
dolorosamente - que a matéria de que sou feita não poderá resistir a
um só
dos maravilhosos planos que a civilização humana tem preparados para
mim
desde há séculos\: ser mulher, mãe, trabalhadora, cidadã. Crente,
protestante. Ser amiga, ser amante.
Sou uma peça do puzzle que não encaixa, um produto industrial com
defeito
de fabrico.
Tenho por dentro um intruso, um inimigo invencível. Estou à mercê de
um
predador implacável. Compreendam\: eu não posso esperar pelo Natal
para que
possa dizer que vos estimo. Eu não posso esperar pelo fim das coisas
para
que possa dizer que vos desejo bem. Do que eu preciso é de um mundo
onde
possa citar Rilke sem correr o risco de ser internada. Onde possa
viver
livremente o meu romantismo sôfrego e vagamente idiota. Um mundo onde
possa
aparecer - sem livro para devolver, sem DVD para pedir emprestado - e
dizer
\"Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta\"\!
Ouvir dizer \"amo-te\" era fácil, hoje já é mais complicado. Requer
muito
treino, não estamos preparados. Fomos educados para sermos acima de
tudo
eficazes. Nada nos foi dito na aula de descer abismos. Nada vem
escrito nos
livros que lemos. Tudo nos abala, nos confunde. Nos funde por vezes
com o
que, depois vemos, não é digno do nosso amor.
Ah, o amor. O amor faz-se se houver tempo. O amor faz-se aos
bocadinhos e
só se convier. O amor faz-se na pausa para o café. O amor é uma
aberração. O
amor mete medo. Chega-te para lá com esse "adoro-te"\! Não me venhas
com
esse "gosto de ti"\! Cai-nos a PIDE do amor em cima, és apanhado e
vais
dentro.
O amor quer-se preso pela trela. O amor quer-se de castigo no canto da
sala. Pouca conversa, pouco barulho. O amor custa. Perde-se tempo e
dinheiro. O amor está fora de moda. Não condiz com as batas brancas da
biologia nem com os botões coloridos da tecnologia nem com a cor do
papel
dos contratos pré-nupciais. O amor é para meninos, ser-se crescido é
outra
coisa.
O amor foi-nos confiscado.
Não contem comigo. Eu não tenho jeito nenhum para ser a pessoa que
todos
esperam. Não tenho competência para ficar a ver o amor passar sem
correr
atrás. Compreendam\: o amor é a minha campainha de Pavlov.
Estímulo-resposta, como me foi explicado na escola de fazer
profissionais.
Eu não tenho jeito para telefonemas nem para passeios em centros
comerciais.
Não contem comigo para ser cão que ladra mas não morde. Não contem
comigo
para não dizer o que não é suposto. Para cancelar beijos, inventar
pretextos, sufocar euforias, adiar alegrias. Para vos escutar em
silêncio.
Para vos poupar ao meu amor, não contem comigo.
Compreendam\: eu não me posso comprometer. |
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3º PRÉMIO
Susana Isabel Pacheco Martins
(Faro)
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“Hoje”
parte contigo
uma parte de mim
como partiram já outras
perdidas
noutras partidas. |
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Menções Honrosas |
Filipe Alexandre
Madaleno Luís
(Lisboa)
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“Fã de ti”
Se tu fosses um campeonato
ou uma liga nacional
ou um astro mundial
no planetário estrelato
maluquinha
não de Arroios mas da bola
peladinha
com pitons lá na sola
Se tu fosses quatro linhas
um relvado
e eu grudado
na beleza que tu tinhas
uma bandeira ao vento
um cachecol - pró relento -
um hino nacional
afinado, com certeza,
Portuguesa, Marselhesa
e um golo divinal
se tu fosses bem pintada
com as cores da selecção
um pouquinho descascada
uma claque e um refrão
se tu fosses, não o nego,
uma jogada inefável
uma finta de nó cego
um remate indefensável
Uma estrela na bancada
qu' ofusca o próprio Sol
se estivesses encarnada
em feminino do futebol
Não serias mesmo assim
metade do que assim és
e significas pra mim. |
|
Hugo Filipe
de Oliveira Lopes
(Queijas/Oeiras)
|
“Entrelaças”
entrelaças os dedos
nos meus dedos
dissipam-se os medos,
sóbrio há tempo demais
mas as noites nunca são iguais
o tempo escorre dos teus lábios
para os meus
vivo a vida como um deus
jovem, belo, veloz
o fumo enrouquece a voz
mas elucida as palavras
música que toca incessantemente
pessoas que não são gente
a estrada passa mas não viajamos
beijos que não beijamos
lugares onde não paramos
viajar
viajar
viajar
a tua inocência estampada no teu rosto
antigo desgosto
rei morto rei posto
viajo
viajas
viajamos
sem fim
|
|
Hugo Filipe de Oliveira Lopes
(Queijas/Oeiras)
|
“Dançamos”
dançámos por esse mundo fora
dançámos por entre o lixo
os cadáveres espalhados no chão
e os que caminham
e quando parámos de dançar
vimos o que nos rodeava
fechámos os olhos
apertámo-nos mais um contra o outro
e dançámos por esse mundo fora
dançámos por mil auroras
dançámos por mil horas e lugares
dançámos até afugentar a morte
até afugentar o medo
dançámos à vista de todos
dançámos em segredo
e quando parámos de dançar
olhámos à nossa volta
mas ainda não era suficiente
por isso dançámos por esse mundo fora
sonhámos, dançámos e nunca acordámos
por tudo e todos passámos
por esse mundo fora
por entre o crepúsculo
e o amor dos homens
por entre mães com o fruto no ventre
o riso das crianças felizes
e quando páramos de dançar
e olhámos em nosso redor
dissemos finalmente \"sim, é isto\"
era mais do que o suficiente
por isso dançámos
dançámos pelo mundo dentro
e ainda hoje dançamos
pelo mundo dentro
e dançaremos |
|
Jorge Augusto dos Santos
Pópulos
(Rio Tinto/Gondomar)
|
“Ao Vento”
Encontrei-te\!
Entre os chapéus dos montes
E as fraldas do céu\!
Perdido nas desventuras dos trilhos enfadados,
Seguindo o vento, procuro rodear o teu peito
Com meus braços e num aperto,
Liberto o rebento das fontes
De espreguiçado contentamento,
Sobre os ferozes escarpados
Dos impérios do erro e do defeito,
Na estimada demanda do acerto.
Chegaste de manso
E por casualidade.
Na troca do olhar arrebatador,
Dialoguei contigo na mudez.
Por dias de estratégia contida,
Negociámos a rendição.
Era já tua a minha vontade,
Entregue ao afecto avassalador
Deixei minha alma em nudez.
Sinto-te hesitante
Entre o querer e o receio\;
Não sei se por medo ou natureza,
Regras teu sentir ao essencial,
Procurando manter
Linha estreita entre conhecido e amante.
Confuso, entre tudo e nada, vagueio,
Agarrado a cultivada certeza
De te afagar em ideal
De companhia, e tudo fazer
Para guardar meu querer constante.
Iludo-me em ser para ti sempre primeiro,
Como és para mim, fiel pensamento.
Porém, sei que nem que me vista de Sol radioso,
E pareça sóbrio e prudente conselheiro,
Ou estrela maior do firmamento,
Me deixarás aquecer-te no dia mais turbulento,
No teu casulo interior misterioso.
Muitos dias passam, sem te ver\:
Morrem as cores, absorve-se a luz
No manto tingido pela saudade.
Seja este um encontro sagrado,
E renovado na vontade de vencer
A distância que a dor seduz,
Lançando o tempo sem idade,
Na partilha do SER amado\!
Quero-te tanto. |
|
Luís Fernando Dias de
Oliveira
(Calvão/Vagos/Aveiro)
|
“À mesa contigo Amor”
Sem princípio
nem fim
única
talvez sejas
comida eterna
divino festim
com que os deuses me sustentam
e te alimentam de mim |
|
Márcia Cristina da
Silva Leite Gonçalves
(Vale de Cambra/Aveiro)
|
“Vou fazer-te uma confidência”
aprendi o ofício dos sonhos em versos
que se colam ao corpo, no fascínio ardente
de olhos teimosos de sonetos.
Há um espaço meu dentro de cada poema,
um espaço verde e cheio de areia,
um lugar de mudez, agasalhado de incertezas.
Aprendi a voar em linhas, indecisa no azul
das canetas. Irada e louca aprendi a decifrar
enganos, nomes invernosos e pesados,
desfigurei névoas futuristas, dedilhei a medo
o estalar das pedras e das águas.
Parei no frio de uma manhã qualquer e
descobri as coordenadas dos meus sonhos\:
perto, perto como as tuas mãos nas minhas.
Vou fazer-te uma confidência\:
a tua presença é o tempo que volta,
é sinfonia que se cola ao corpo, no fascínio ardente
de olhos teimosos de sonetos.
Há um espaço meu dentro de ti,
um espaço verde e cheio de areia,
um lugar de mudez, agasalhado de incertezas.
Nas coordenadas dos meus sonhos,
encontrei as tuas.
|
|
Maria João Magalhães Neves
(Lisboa)
|
“Dois”
Um espectáculo de dança contemporânea. Feito. Só para mim.
Em homenagem a um grande. Lopes Graça. Feito com todas as medidas.
Para um
pequeno. Entrei naquela sala. Pela primeira vez. Pequena e quase
vazia. Eu
aguardava-te. Não chegaste. Fui. Sentei-me. De coração na boca.
Estavam
poucas pessoas. Mas. Todas. Procuravam o dois. O seu 2.
1 + 1 = 2. Um filho gera-se com dois. Um espermatozóide. E um óvulo.
Uma
planta não sobrevive sem terra. Um peixe não vive sem água. Os óculos.
Não
servem sem o nariz. Um beijo. Não serve sem outra boca. Um monologo.
Não é
um diálogo.
DOIS.
O palco. Com 1 bailarino. Depois. Surgiu. O outro.
Chegaste. Sentaste-te. Não sei onde. Ao meu colo. Talvez. O 1 e 1 com
os
4 pés no chão. \(4 - 2 = 2\). Carregavam o palco. O meu coração.
Pulava,
também. O teu batia. Correram. Ele atrás dela. Ela atrás dele. E
boiaram. No
palco. Amaram-se. E. Engoliram a saliva a dois. Eu saltei para o teu
colo. O
2 construiu labirintos. Com espaço. Para outro inicio. Para outro fim.
O
caminho traçado. No fim Ficou um rectângulo. Fechado. Saltei do teu
colo.
Inesperadamente. Sempre. A cor mudou. Ela chorou. Sozinha. Ele caiu no
chão,
sem se levantar.
Eu apertei a tua mão. Com uma coluna de ar, a separar as nossas
cadeiras.
1+1≠2
Voamos os dois, pela porta que tinha o sinal EXIT.
|
|
Sofia Margarida
Mesquita Tiago Sobral Ramos
(Coimbra)
|
“Chove”
Chove de forma incessante e a escuridão do dia envolve-me de tal
forma que me sinto angustiada. Adormeci e apercebo-me que estou
atrasada. Vi
o Sol de manhã, meia ensonada, mas agora parece-me uma pintura mal
acabada,
uma recordação e mais nada. Não consigo absorver energias daquela
memória e
nasce esta história. Um dia que começou assim, com um mau princípio e
eu a
desejar-lhe o fim. Desço as escadas a correr e vou trabalhar, mas com
pouca
vontade de o fazer. É um daqueles dias que o coração se esvazia, se
sente só
na multidão, necessita de carinho, de alguém que lhe dê a mão.
Trabalho,
estou ali, mas não estou. Viajo constantemente e a atenção desvanece,
até
que o patrão aparece. Fico apreensiva, expectante e quase que não ouço
o
discurso do falante. Chama-me a atenção e eu até compreendo que tenha
razão,
mas é difícil esquivar-me da discussão. O dia continua a correr como
uma
negação e apercebo-me que vou ter de fazer serão. As horas teimam em
passar
mas, finalme!
nte, posso ir para casa descansar. Vou buscar o meu filho que me
surpreende com um sorriso genuíno e as nuvens afastaram-se do meu
caminho. O
Sol começa a espreitar só de o ouvir falar, sinto aconchego e afecto e
apercebo-me como o meu dia muda ali por completo\!
Começa o DIA verdadeiramente\! A chuva cai realmente, mas para mim são
apenas gotas de benefício e não sinto qualquer sacrifício. Será até
tinta
para colorir, é que agora só me apetece sorrir\! Chego a casa e o
quadro de
conforto está-se a completar, o roçar da gata na minha perna é mais um
pincelar. Tudo ganha outros contornos, e finalmente os meus olhos
abraçam o
último raio de luz que faltava para completar o meu Sol. Chega a casa
aquele
que me completa, mesmo na hora certa\! E ainda para mais hoje vem
especialmente iluminado, com um presente que comprou com cuidado\: "Um
ramo
de flores para pintar o teu sorriso com cores\!" Hoje este gesto veio
mesmo
a calhar, neste dia que começou a querer acabar. Foi um gesto
espontâneo,
não é nenhuma data marcada, apeteceu-lhe, é o que me diz. Logo hoje,
que não
me sentia particularmente feliz\! Telepatia pode-se dizer,
cumplicidade
também mas é AMOR, sabemo-lo bem\! Não é pelo presente, nem sequer
esperava,
um sorriso, um beijo só ba!
stava\! É antes por todos os dias haver aquela troca de olhar, aquele
sorriso a dois ao jantar, aquela brincadeira ou leitura a três antes
de
deitar, aquela partilha e entrega, mesmo até ao discutir, pois se
juntos
choramos, juntos iremos sorrir.
De pequenos gestos se pinta o AMOR, todos os dias. com pingos de chuva
à
mistura, ou não, mas fazendo por fim o Sol brilhar no coração\! E a
pintura
nunca termina, mas que isso não conduza à rotina. Existem tantas cores
e
pincéis, tanta luz para oferecer, basta realmente viver. Basta retirar
de
cada dia uma pequena pigmentação e o preto e branco já não entristece
o
nosso coração. Nem que se comece \(de novo\) o dia mesmo quando o Sol,
estrela, se quer esconder pois, regra geral, no costume de
casa-trabalho-casa é assim, já tarde, que os verdadeiros "Sóis" da
nossa
vida nos vão aquecer\! Mas tarde faz-se cedo e de facto, assim, é um
prazer
viver\! Assim como? Com luz, tintas e pincéis? Mas nem sabemos
pintar?... Eu
decifro, tudo isto é despretensioso, é apenas uma exteriorização, não
um
ensinamento. Mas talvez seja um conselho, para que em tudo o que façam
tragam o AMOR no pensamento.
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