Semana dos namorados - Concurso de Textos de Amor - 2005

Premiados

2006

2005

2004

2003

 

   

1º Prémio
 

“A VIDA CONTINUA” 
 

Madalena Homem-Cardoso
 
Lisboa

  Menção Honrosa
 

"SIGILO DE FADA”
 
Juliana Ferreira
 
Fão

2º Prémio
 

“HOJE ERA SÓ UM DIA...”
 

Artur Filipe Bulhosa dos Santos
  
Porto

 Menção Honrosa
 

“SE FOSSES FRUTO...”
 

Maria de Fátima Silva Martins
 
Porto

 3º Prémio
 

PARA TI
 

Ana Laureano
 
São Domingos de Rana, Parede

  Menção Honrosa
 

“DEIXA-ME ENVELHECER..."
 

  Maria de Fátima Silva Martins
 
Porto

 

 Menção Honrosa
 

“À DERIVA"
 

 Horácio José da Silva Lopes

 
Fátima

   

  1º Prémio:

   

A VIDA CONTINUA

    

Amo-te, e alguém liga um motor barulhento;
Amo-te, e um pássaro pousa num telhado;
Amo-te, e um rapaz assobia na rua,
E tudo continua, como se nada tivesse passado.

Amo-te, e soa a campaínha de um alarme;
Amo-te, e acende-se luz numa janela;
Amo-te, e esta saudade nunca me abandona
E tudo funciona, e a vida é assim, normal e bela.

Amo-te, e as minhas mãos procuram pouso certo;
Amo-te, e deambulo um corpo aprisionado;
Amo-te, e os meus olhos só vêem, no fundo,
Um mundo igual ao mundo, como se em nada eu tivesse mudado.

 

Madalena Homem-Cardoso
Lisboa

   

2º Prémio:

 

HOJE ERA SÓ UM DIA...

 

Hoje era só um dia…

Um dia pequenino
com 24 horas como os outros e tantos mais minutos que os dedos não chegam para contar.
Mas eles insistiram comigo
disseram que hoje era um dia especial
e andaram todos aos pares
como apenas hoje fosse dia de amar
e deixaram os outros
soltos pela rua como pássaros sem asas,
sem pares nem rosas nem beijos nem amor.
Fiz tantos planos hoje
mas deixei-os perdidos no caminho.

Sonha,
mas não te deixes de coisas
não deixes de mim
que eu sem ti nem sonho sou
nem sonhos tenho,
nem sonhos quero…

E hoje era só um dia…
e hoje também tinha tantas palavras bonitas prontas para dar,
e hoje…
também chorei.

 

Artur Filipe Bulhosa dos Santos
Porto

    

3º Prémio:

 

PARA TI
 

É para ti que escrevo. Exactamente para ti.
O crepúsculo desceu sobre a cidade, sabes, sonho sempre com gnomos, elfos e criaturas de um mundo paralelo que essa hora mágica aproveitam para sair, mas afinal vivo entre ferros e cimento e eles pertencem às florestas, aos lagos, à Natureza que não foi aprisionada em prédios e ruas. E então sento-me frente ao ecrã inquieto do computador, enquanto lá fora tremeluzem as luzes dos candeeiros, e dentro de mim persiste o negrume que estrela alguma logrou ainda dissipar. Faz-me falta a tua companhia, entendes? Canso-me nestes diálogos em que me finjo orador e ouvinte. Gasto-me em hipóteses loucas, em delirantes ses plenos de promessas tão radiosas quanto improváveis. Exausto-me em cartas sem destinatário possível… Desculpa: há um destinatário, claro que sim, não leves a mal, não tinha a intenção de te ofender… Mas é tão difícil, cada dia mais, esta construção da tua presença. Por vezes temo não ter forças. Como agora: o céu violeta, por detrás das silhuetas escuras dos prédios, fala-me de uma noite que é preciso enfrentar sozinha, seguida de mais um dia de solidão, e quem sabe outro e outro ainda.
Outras vezes sobressalto-me: aquela frágil figura perdida no imenso areal, que as ondas beijam com mineral indiferença, serás tu? E naquela mesinha do canto, frente a uma chávena vazia, no café, absurdamente de esquina onde tantas vezes vais, com um cigarro acabado de acender, serás tu?
É para ti que escrevo. Envolta na irónica ironia de não saber se és alto ou baixo, louro ou moreno, tens olhos claros de sonhador ou escuros de poeta incompreendido. Para ti, que me és destinado, solitário tu também num mundo de solidão disfarçada, de doces arremedos a cobrir a realidade de uma peregrinação insensata sob as estrelas. Principezinhos sem reino em busca de um planeta para habitar, Dons Sebastiões desejados por um deus desconhecido, delfins tristes de um qualquer império que nasceu, cresceu, e em cujas ruínas teimosamente tropeçamos.
É para ti. Que neste ou outro crepúsculo descido sobre esta ou outra cidade sonhas com gnomos, elfos e criaturas de um mundo paralelo que a essa hora mágica aproveitam para sair, mas afinal vives entre ferros e cimento e eles pertencem às florestas, aos lagos, à Natureza que não foi (ainda) aprisionada em prédios e ruas… Para ti que te sentas frente ao ecrã inquieto do computador.
É para mim que escreves. Exactamente para mim.

 

Ana Laureano
São Domingos de Rana, Parede

   

Menção honrosa

 

SIGILO DE FADA
  

De asa presa sobre a mesa de retalhos de memória
Rasgo pedaços de tecidos manchados de história…
Uma vaga de azia cai sobre a noite caótica;
Longe vai agora o sabor a fruta exótica
Da tua boca molhada, doce, desfrutada.

Um chamariz rompe de súbito a fria madrugada,
É o coração que reclama a alma mumificada
Imersa no desejo inconfessável de te venerar…
Miro o céu revestido de mágoa que não vai desnublar
Como que por castigo, por te amar sigilada…

 

 

Juliana Ferreira
Fão

   

Menção honrosa

 

SE FOSSES FRUTO...


Se fosses fruto eu seria árvore onde tu amadurecias sem ninguém te colher,
Se fosses rio eu seria mar que abria os braços para te receber,
Se fosses chuva eu seria terra que sequiosa te ia beber,
Mas hoje tu és o Sol e eu a flor que sem ti não pode viver.
 

 

Maria de Fátima Silva Martins
Porto

Menção honrosa

 

DEIXA-ME ENVELHECER...


Deixa-me envelhecer contigo, para que, quando o nosso inverno chegar, as árvores despidas tenham outra beleza, o vento agreste seja uma brisa refrescante e a chuva copiosa uma bênção da natureza.


Maria de Fátima Silva Martins
Porto

Menção honrosa

 

À DERIVA


Deixo partir à deriva
este fogo que me invade
e consome os meus sentidos
Tantos caminhos perdidos
e tão perdida a vontade
que até da vida me priva.

Faço vogar como quero
A nau da minha saudade,
Qual veleiro destemido;
Que este grito em mim contido
Quer tomar corpo e, em verdade,
Nada mais na vida espero.

Viverei, pois já não mais
Represarei a torrente
Ou atracarei meu barco.
E das margens deste charco
Forjarei uma nascente
Sem medo, nem fim, nem cais.

O teu amor infinito
Que me chama e me recria
É minha história, meu fim.
Tu és vida e fogo em mim!
E o meu mundo rodopia
Embalado neste grito.

Horácio José da Silva Lopes
Fátima